Com as férias do Killers, Brandon Flowers lança seu álbum solo prova que existe vida fora da banda de Las Vegas.

Brandon Flowers é um daqueles músicos que precisamos conhecer mais a fundo para tentar entender o que se passa em sua mente e mesmo assim não chegamos nem perto de seu universo particular. Extremamente tímido, não faz parte daquele grupo de estrelas do rock que carregam a bandeira do sexo, drogas e rock & roll. Também é altamente perfeccionista e criativo, sendo um dos responsáveis diretos por ter elevado o som do Killers de banda indie e banda sem rótulos que agrada a gregos e troianos.

Workaholic certamente é outra maneira bem justa de definir Mr.Flowers e quando o The Killers anunciou que estava entrando de férias por tempo indeterminado, o frontman resolveu trabalhar em cima de algumas faixas que estava compondo para a banda. As canções foram adquirindo o tom mais e mais pessoal e recentemente se transformaram no primeiro álbum solo de Brandon, batizado de Flamingo. O projeto foi produzido por gente como Stuart Prince (Madonna e The Killers), Daniel Lanois (U2 e Bob Dylan), Brendan O'Brien e pelo proprio Flowers.

O álbum chega carregado de influências musicais americanas - do country até o gospel - e referências em abundância a Las Vegas. Lar doce lar de Brandon, o álbum é aberto com a faixa "Welcome To Fabulous Las Vegas", “Traga os seus sonhos, suas dores de cabeça e seus pecados" canta no refrão sobre sua cidade e caso de amor.

"Only The Young" tem o dedo mágico do produtor Stuart Price (Madonna, The Killers), é uma das melhores músicas do álbum e que entraria facilmente entre o Top 20 do The Killers. Se tentar misturar um pouco de "Sam´s Town" (segundo álbum do Killers) e "Day & Age" (terceiro e mais recente trabalho da banda) teremos algo parecido com "Only The Young". O piano mais calmo de Brandon e os vocais maliciosos ajudam a criar uma atmosfera musical perfeita. Flamingo pode não ser um grande álbum, mas só por "Only The Young" já sobe no conceito de qualquer um. Não é por acaso que será o segundo single do álbum.

Em "Hard Enough" as evidências country começam a aparecer e abre caminho para "Jilted Lovers & Broken Hearts", outra boa canção mas que não empolga muito. "Playing With Fire" é misteriosa e tensa. Teve participação do baterias do Killer Ronnie Vannucci nas gravações. Ao ver Brandon tocar esta faixa ao vivo, observando sua tensão, concentração e todos os pelos de seu corpo arrepiados literalmente, sentimos que "Playing With Fire" é especial para ele. Seria uma nova "Read My Mind"?

O clima mais intimista fica de lado quando começa a animadinha "Was It Something I Said", seguida por "Magdalena" e "Crossfire", primeiro single promocional e outro ponto alto do disco. A canção é sofisticada, bem produzida e mostra toda a genialidade de Brandon como senhor de si. O homem tímido que compõe, trabalha na produção e coloca a voz e a alma em suas músicas.

"On The Floor" é o encontro de dois mundos que ajudam a moldar este álbum e que até então não apareciam na mesma faixa. Gospel e country music criam o clima de "On The Floor" consolidado com o coral clichê ao fundo. Tem algo que me lembra a versão gospel de "I Still Haven't Found What I'm Looking For" do U2, gravada para o projeto Rattle And Hum de 1990."

"Swallow It" fecha a edição mais simples de Flamingo. A faixa começa de uma maneira inocente e vai crescendo até que é finalizada da mesma singela maneira com que começou. Uma ótima forma de encerrar o disco, mas para quem comprar a versão deluxe ainda leva outras boas canções.

"The Clock Was Tickin" é country elevada a décima potência, já "Jacksonvile" merecia estar entre o tracklist principal de Flamingo. A faixa começa com uma bateria eletrônica abafada e flerta com a música eletrônica apoiada em ótimos vocais auto-tunados de Brandon (mesmo ele não precisando disso) e backing vocals milimetricamente sincronizados.

"I Came Here To Get Over You", outra boa faixa que merecia estar entre as faixas principais de Flamingo, mas talvez por questões comerciais tenha ficado de fora e fechando as bonus tracks com "Right Behind You" de maneira excelente.


Flamingo nasceu da necessidade de Brandon continuar. Mesmo com o Killers de férias, ele não conseguiu se afastar do que ama e essa ausência dos colegas de banda tem sido evidente. Na estrada com a turnê de divulgação do álbum, vemos um Brandon Flowers mais contido e estático. A timidez que estava sendo deixada de lado quando se apresentava com o Killers voltou com força. Brandon parece não estar muito a vontade com sua nova banda temporária. É como se todo um processo de libertação pessoal que aconteceu junto a Dave Keuning, Ronnie Vannucci, Mark Stoermer fosse esquecido. Por outro lado, Mr.Flowers está cantando como nunca. Arrepios na alma podem ser causados ao ouvir a versão acústica de "On The Floor" tocada ao vivo em uma rádio de Los Angeles.

Brandon já disse em entrevistas que se sente só, mas este isolamento tem data para acabar, recentemente ele disse que o The Killers retorna em 2011. Uma coisa é certa, o Brandon Flowers que se juntará ao Killers no ano que vem é diferente daquele que finalizou a turnê do álbum Day & Age, antes dessas férias. O que a banda de Las Vegas irá nos apresentar e o que o inovador Flowers irá propor para essa nova fase do The Killers?